Imersão na Natureza - entre viagens e reflexões, por Fernando Teixeira

Viagens recentes a lugares repletos de natureza, aliadas a uma incursão à ambientes remotos da Lagoa do Peri, um dos espaços mais carregados de vida existentes no território da Ilha de Santa Catarina, me levaram a fazer algumas reflexões sobre a forma como precisamos lidar e, sobretudo nos relacionar, com o que há de mais precioso no planeta Terra.
Me refiro aos ambientes naturais que ainda resistem à fortes pressões decorrentes das mais variadas intervenções humanas. Constantemente castigada por ações antrópicas que desconsideram a fragilidade dos ecossistemas naturais e a importância de sua preservação, nossa casa comum tem sofrido sistematicamente com a falta de cuidados que possam mantê-la ainda saudável por um longo período.
Parque La Paz - Reserva Particular - Provincia de Alajuela - San José da Costa Rica. (Foto: Fernando Teixeira)
Sem estes, por certo, estaremos fadados a um caminho sem volta quando a questão em pauta é a saúde do planeta.
Na Costa Rica, um pequeno país localizado na América Central, um dos locais que tive a alegria de visitar recentemente, as últimas décadas foram marcadas por profundo câmbio na maneira como passaram a utilizar/explorar as potencialidades de seus ricos ambientes naturais.
Foi a partir dos anos de 1980 que um cuidadoso projeto governamental começou a ser colocado em prática, buscando reverter índices de desmatamento que chegavam a atingir 70% da cobertura vegetal do país.
Parque Nacional Manuel Antônio - Costa Rica. (Foto: Fernando Teixeira)
Cinco décadas depois o que se vê é praticamente o inverso. Hoje, quase 60% do território da Costa Rica abriga áreas protegidas, sendo que destas, 25% formam 26 parques nacionais.
A exemplo de 1948, quando após o término de uma guerra civil, optou-se pela extinção do exército nacional, disponibilizando recursos gastos nessa área em educação e saúde, fazendo o país se transformar num dos mais alfabetizados e com maiores índices de qualidade de vida de toda a América Latina, os investimentos na área ambiental também trouxeram avanços significativos, possibilitando o crescimento da economia nacional.
Atualmente mais de 2,5 milhões de turistas estrangeiros visitam o pequeno território da Costa Rica em busca de seus bem cuidados parques nacionais ou reservas naturais, sejam estas públicas ou privadas, atividade que gera renda aos seus habitantes e divisas importantes para o país.
A comercialização de créditos de carbono com empresas internacionais, gerados a partir da conservação das florestas, também se transformou em fator preponderante para o crescimento econômico deste belo país latino.
Vista aérea da Floresta Amazônica - Cercanias de Manaus. (Foto: Fernando Teixeira)
Já na Amazônia, de onde retornei há poucos dias, o deslumbramento com tamanha beleza e grandiosidade deste que é considerado um dos mais importantes e ricos ambientes naturais do mundo, me trouxe a certeza da necessidade de que cada vez mais é preciso estarmos atentos a sua preservação.
Além de abrigar a maior biodiversidade do planeta, com milhares de espécies de plantas e animais, algumas ainda desconhecidas, seus recursos hídricos são responsáveis pelo armazenamento de cerca de 20% de toda a água doce do planeta, elemento vital para nossa sobrevivência.
Afora sua beleza e importância ecológica, a Amazônia igualmente abriga populações indígenas e tradicionais que além de acumularem saberes ancestrais, possuem profundo conhecimento sobre o uso sustentável de seus imensuráveis recursos naturais.
Diferentemente da Costa Rica, o turismo na Amazônia, apesar de vir se fortalecendo, ainda é considerado de pequenas proporções, dadas suas grandes dimensões territoriais e toda sua potencialidade para receber visitantes que vão em busca de uma interação mais profunda com a natureza.
Não obstante o potencial para arrecadar entre 11 e 20 bilhões de dólares em créditos de carbono entre os anos de 2023 e 2030, este número ainda está um pouco distante de tornar-se realidade, em função da necessidade da regulamentação deste setor nos estados que compõem a Amazônia Legal.
Angelim Pedra ou Angelim Vermelho - árvore com mais 400 anos - Floresta Amazônica. (Foto: Fernando Teixeira)
No entanto esta é uma perspectiva animadora para a região e que nos faz pensar sobre as inúmeras possibilidades de ganhos que podem ser obtidos com a preservação ambiental, desde que sejam observadas as legislações que regulam e protegem este campo.
Porém, na contramão do que acontece na Costa Rica e se colocando numa posição oposta à necessidade de se intensificar os cuidados com nossas riquezas naturais, o Congresso Nacional acaba de aprovar o PL 2.159, que é um verdadeiro desmonte dos parâmetros técnicos e científicos que embasam o atual regramento ambiental brasileiro.
Para ambientalistas como Marcos Woortman, diretor do Instituto Democracia e Sustentabilidade, em entrevista ao Observatório do Clima, o sentimento da votação desta nova legislação que está sendo chamada de Lei da Devastação, é de terra arrasada.
Terra, Planeta Água - Rio Negro - Manaus. (Foto: Fernando Teixeira)
Segundo ele, a aprovação deste projeto trará gravíssimos danos à saúde pública, ao meio ambiente e até mesmo ao desenvolvimento econômico.
Com a simplificação nos procedimentos de Licenciamento Ambiental, atividades que antes necessitavam de análise técnica mais apurada para sua execução, não mais dependerão deste importante instrumento para serem implantadas.
Ao invés de se buscar aprimorar os cuidados com o planeta e as futuras gerações, o que estamos vendo na verdade em nosso país, é um verdadeiro retrocesso, o que pode nos levar a prejuízos ambientais incalculáveis num futuro não muito distante.
Para ler outras colunas do arquiteto Fernando Teixeira clique AQUI
Para voltar à capa do Portal o (home) clique AQUI
Para receber nossas notícias, clique AQUI e faça parte do Grupo de WHATS do Imagem da Ilha.
Gostou deste conteúdo? Compartilhe utilizando um dos ícones abaixo!
Pode ser no seu Face, Twitter ou WhatsApp
Comentários via Whats: (48) 99162 8045
Sobre o autor

Fernando Teixeira
Formado em Arquitetura e Urbanismo (UFSC), mestre em Geociências e Doutor em Educação Científica e Tecnológica (UFSC), natural de Florianópolis. Atualmente tem se dedicado à fotografia.
Ver outros artigos escritos?

Notícias relacionadas Ver todas
