Cultura do 'sempre ligado' drena energia e foco
Especialista aponta como a pressão por disponibilidade constante afeta saúde mental e produtividade
O avanço da tecnologia transformou a forma de trabalho, mas também trouxe um efeito preocupante: a cultura do “sempre ligado”. Segundo o psicólogo Wanderley Cintra Jr., especialista em comportamento no ambiente de trabalho, a expectativa de estar sempre disponível para responder e-mails, mensagens e demandas fora do expediente deixou de ser exceção e passou a ser regra em muitas empresas, especialmente após a popularização do home office. Para ele, o problema vai além do excesso de tempo diante das telas: trata-se de uma armadilha que compromete saúde mental, produtividade e qualidade de vida.
Mas o que realmente significa estar “sempre ligado”? Segundo o psicólogo, mais do que responder a mensagens fora do horário, essa cultura estabelece um estado de vigilância constante. “O colaborador sente que precisa estar pronto para atender qualquer solicitação, a qualquer hora, mesmo que isso não tenha sido dito formalmente”. Essa pressão silenciosa transforma a rotina em um ciclo sem pausas, onde não há espaço para descanso mental, físico ou emocional.
A seguir, o psicólogo explica os gatilhos que alimentam essa cultura, os impactos silenciosos que ela provoca e as estratégias para quebrar o ciclo:
4 gatilhos
Para Wanderley, quatro fatores alimentam esse comportamento: o medo de perder oportunidades, a pressão direta ou indireta das lideranças, a competitividade interna e o acesso irrestrito à tecnologia. “Quando o gestor envia mensagens no domingo, mesmo sem esperar resposta imediata, cria-se um padrão comportamental que normaliza a disponibilidade constante”, explica. Esses gatilhos formam um ambiente em que desconectar é visto como risco.
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Saúde mental
A exposição contínua a estímulos do trabalho impede que o cérebro entre em modos de recuperação, essenciais para restaurar energia e processar informações. “Esse estado de alerta prolongado aumenta os níveis de estresse e ansiedade, prejudica o sono e, em casos extremos, leva ao burnout, síndrome reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como consequência do estresse crônico ligado ao trabalho”, diz Wanderley.
Produtividade x ilusão
Apesar de parecer o contrário, estar conectado o tempo todo não garante mais resultados. Pesquisas indicam que interrupções constantes comprometem a concentração, elevam a taxa de erros e aumentam o retrabalho. Segundo estudo da Universidade da California, leva-se em média 23 minutos para retomar o foco total após uma interrupção. “Produtividade não é quantidade de horas, é qualidade de atenção. Sem pausa, não existe performance sustentável”, reforça o psicólogo.
Impacto na vida pessoal
O trabalho invade horários de lazer, encontros familiares e momentos de descanso, tornando-os fragmentados e de baixa qualidade. A sensação de estar “sempre devendo algo” mina relações e reduz o engajamento com a vida fora do ambiente corporativo. “A longo prazo, isso pode gerar distanciamento emocional e isolamento social”, destaca Wanderley Cintra Jr..
De quem é a responsabilidade?
O profissional defende que a mudança precisa vir de cima. Políticas claras sobre comunicação fora do expediente, incentivo a períodos de descanso e líderes que sirvam de exemplo são essenciais para quebrar a lógica do “sempre ligado”. “Sem essa transformação cultural, o peso recai unicamente sobre o indivíduo, o que torna a mudança quase impossível”.
Estratégias para desconectar
Definir horários fixos de início e término do expediente, desativar notificações fora do trabalho, criar rituais para simbolizar o fim da jornada, “como fechar o notebook ou guardar o celular corporativo, e investir em atividades offline, como esportes ou hobbies, ajudam a restabelecer o equilíbrio”, reforça Wanderley. Pequenas mudanças consistentes são capazes de reverter anos de sobrecarga.
Da redação
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