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Solo de dança baseado na obra de Oscar Wilde estreia no SESC Prainha

Foto: Cristiano Prim

Publicado em 09/05/2016

Entender a profundidade do trabalho de Elke Siedler é voltar-se para dentro. As fragilidades que tratam o corpo do bailarino Diogo Vaz Franco em cena são carregadas em doses particulares pelos transeuntes deste século e de outrora. O corpo continua a sentir a pressão das deslealdades do mundo sob suas costas, a isolar o berro.  O solo de dança contemporânea Recluso, que estreia nos dias 11 e 12 de maio, às 20h, no Teatro SESC Prainha, constrói um caminho de fluidez existencial a partir do movimento. Não tem pretensão de representar uma dor, mas criar uma ideia de transitoriedade do sofrimento, sem desprezá-lo como condição inferior da existência.

Essa dança nasceu de uma parceria artística entre Elke e Diogo. O bailarino é formado em artes cênicas pela Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC. Esboçou a primeira página deste projeto em 2008. Na época encontrou na obra "De Profundis", do escritor britânico Oscar Wilde, do final do século 19,  a base que o estimulava para entrar em processo criativo. Wilde foi condenado a dois anos de prisão e trabalhos forçados apenas por ser homossexual, condição proibida pela sociedade vigente.  O romance envolvendo o jovem Lord Alfred Douglas, apelidado de Bosie, o levou ao cárcere, onde escreveu uma série de cartas destinadas ao amante maldito, ao traidor que virou as costas ao homem que lhe devotou amor. 
A história tocou Diogo. "Achei a narrativa muito forte, o modo que ele lidou com a situação. Um homem da alta sociedade enclausurado nos julgamentos e suas próprias vulnerabilidades. Ele elaborou a amargura da dor de ter experienciado o amor por um homem mimado, ingrato e insensível, numa obra literária ácida, expondo seus sentimentos e suas contradições. O lugar do erro lembrado diariamente, a repressão, a sexualidade transformada em poesia. Encontrei muita potência artística nesta obra", explica Diogo. 

Com o projeto aprovado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura 2015, após sete anos engavetado, Diogo resgatou a proposta e convidou a artista Elke Siedler para compor e dirigir o trabalho. "Não é uma obra literal, muito menos de representação de um personagem. Seguimos no entendimento que todo corpo tem momentos de dor e o que você faz com a sua dor? Oscar Wilde não fugiu dela, pois o corpo estava confinado numa cela", complementa. Pensar a dor, o corpo na situação de dor, uma situação de aprofundamento e experimentação da dor permeou os processos criativos de Elke Siedler. "A ideia é que o fluxo do movimento de Diogo instaure um ambiente poético da obscuridade/sofrimento da existência humana. Ele não está interpretando nada. O que importa é o que emerge deste fluxo do movimento, como uma metáfora, e a compreensão desta corporalidade delineada e compreendida durante os 45 minutos de apresentação", conta Elke.


E dentro dessa ambiência arquitetada, Diogo vive as direções dos entendimentos. Encontra brechas no percurso, imuniza a resistência, desmanchando-se muitas vezes na carência do afeto. Entrelaçado nos labirintos da angústia, ele descobre aberturas, edifica outras sustentações, cria possibilidades. "Tudo nesta vida se transforma, inclusive a dor. Permanecendo na dor, a própria dor muda, a própria produção de sentido e significação da dor muda, a própria qualidade da dor dentro de mim muda. Porque tudo na vida muda. Então, eu quero construir essa experiência com o público. E por quê falar sobre isso? Na sociedade em que vivemos, sofremos uma pressão biopolítica de estar sempre feliz, uma pressão gerenciada para o sucesso, sempre. Acabamos virando um produto para a sociedade. Acabamos nos transformando num avatar de nós próprios. A questão aqui não é negar, mas entrar no sentimento, nos aprofundar em aspectos não vistos e quistos pela nossa sociedade. Sem vitimização, é outro aspecto de estar neste mundo", resume Elke. 


Serviço:
Data: 11 e 12 de maio de 2016
Hora: 20h
Local: Teatro Sesc Prainha 

Apresentação: Recluso, com Diogo Vaz Franco (Florianópolis / SC)
Datas:  13 e 14 de maio de 2016
Horário: 20h
Local: 
​CEART (UDESC)​

Ingressos gratuitos, distribuídos 1h antes da apresentação - sujeito alotação.
Ficha Técnica:
Direção Coreográfica: Elke Siedler
Bailarino: Diogo Vaz Franco
Música: Nelson D.
Luz: Priscilla ​Costa​