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Ju Pippi apresenta o Brasil em camadas
Espaço traz aconchego e beleza

Crédito de fotos: Marco Antônio **Clique para ampliar

Publicado em 21/07/2021

Olhar para dentro, para as nossas camadas e sentimentos mais intensos. Escavar a terra, a pele até chegar ao tutano. Aprofundar em grau máximo as relações conosco, com os outros, com os espaços e a natureza de cada lugar. É a proposta sinestésica da arquiteta Juliana Pippi no “Camadas Brasileiras”, em exibição nesta edição da CASACOR/SANTA CATARINA, de 18 de julho a 29 de agosto, no Espaço +UM, em Florianópolis/SC.

O ambiente manifesta na diversidade de tons terrosos que cobrem - como pele - objetos, superfícies e mobiliário. O garimpo é resultado da pesquisa da arquiteta pelas estradas mineiras, cearenses, alagoanas, baianas, catarinenses e gaúchas. Peregrinação com intenção de sensibilizar o olhar e abastecer a bagagem com a beleza da simplicidade. Juliana buscou nas mãos de artesãs/os histórias para revigorá-las em outras tramas no ambiente. O rearranjo de materiais, de tipologias híbridas é a versão que oferece como matéria do morar.

“Vivo neste espaço a (re)interpretação dos sentidos, de como me construo como pessoa. Para mim o ambiente deve se manifestar de forma sinestésica. Busco trabalhar as relações entre luz e sombra, cores, formas, tramas e a verdade dos materiais”, pontua Juliana.

As camadas do projeto

Camadas de cores e texturas que representam a diversidade do Brasil. Os tons terrosos aparecem em texturas e tramas por todo o espaço. A contar pelo teto tingido com a cor lançamento da Coral, batizada de “Camadas Brasileiras'', e utilizada como elemento de arremate e equilíbrio.

A experiência da arquiteta com a indústria é notável na composição de produtos híbridos, peças que combinam técnica  industrial ao feito à mão e valorizam também o fator humano na criação de artefatos e mobiliário. A “Cortina de Cobogó “ em tijolo cerâmico Chelsea Dark Red da Portobello é mostra da habilidade e olhar refinado da profissional. No espaço o item faz um contraponto ao revestimento do piso geral, às paredes do lavabo em Dansk Concrete Mud 120x250 e contorna a medida do ambiente.

Mergulho nos materiais

Ao entrar no ambiente o visitante é envolvido por uma atmosfera forte e, ao mesmo tempo, leve. A mesa de jantar Brava com base e tampo em formato orgânico foi customizada pela arquiteta, mixando duas peças assinadas pelo designer Jader Almeida. A base em latão flamed traz a simbologia do elemento fogo, presente ainda nas cadeiras Etta.

Nesse espaço de compartilhamento, a cozinha/bar é uma Ilha em pintura Corten que pode servir para o  uso interno ou externo e apresenta versatilidade em composições. A ideia é oferecer um contexto mais fluido de morar. A bancada possui, além da cuba de cozinha Dream Deca em Onix embutida e monocomando de mesa bica curva da linha Deca You em acabamento Corten, frigobar embutido e caixas utilitárias. O Banco Basso em teca e Cortein se sobrepõe à fotografia “O Oleiro” de Marco Antônio.

O living é o coração do ambiente e reúne de forma impactante e expressiva a potência da forma e das matérias-primas. Como a mesa de Centro em Bronzite natural vinda da Bahia, idealizada pela arquiteta e executada pela Pedecril como camadas da natureza sobrepostas em sua forma bruta e natural. 

Obras de artistas e artesãos de todos os cantos do Brasil como Tarsila do Amaral, Shirley Paes Leme, Walmor Corrêa, Arnaldo Antunes, Marco Antônio, Gustavo Moreno, Marcus Camargo, Elisa Stecca, Estúdio Iludi, Renato Gobi, Marcel Fernandes, Heloisa Galvão permeiam o ambiente.  Já no quesito design novos nomes como Guilherme Wentz, Bruno de Carvalho - que assina as poltronas quadradas em palhinha brasileira - e Leo Strauss com o Biombo Sarafo.

Somam-se à curadoria de Juliana os trabalhos de Inês Schertel, Domingos Tótora e Jader Almeida. A luz filtrada pelos xales tecidos à mão e tingidos com pigmento natural rochoso foram desenvolvidos em uma cocriação entre a arquiteta e a Pia Laus. Marca que também fornece a manta Felicidade em tingimento natural e sintetiza técnicas manuais ancestrais da cultura brasileira do tecer.

Efeitos de Luz

Quando a noite cai, a luz âmbar domina o espaço despertando os sentidos. Os pendentes Trancoso em palha natural feitos à mão pelo Estúdio Itens compõem o cenário, representando a forte presença da arte popular brasileira.  Estes contracenam com o Abajur em cerâmica de Marcus Camargo e a Luminária Amorfa assinada por Arthur Casas no Living.

Mobiliário

No living, móveis soltos sugerem uma composição mais flexível, em resposta ao tempo fluido do mundo. Poucos móveis são suficientes para a vida, revisada em todas as esferas. O confortável sofá da linha “Camadas”, assinado pela própria arquiteta para a Studio Ambientes, é em cambraia de linho natural e tem desenho desmembrado em duas partes. 

A mesa baixa em carvalho tingido nude com carregador de celular oculto faz parte da coleção. Abraçando o sofá, uma composição de mesas laterais em tons nude de Arthur Casas e terracota do Studio Luazzu e o Biombo Sarrafo em cedro rosa com assinatura do designer Leo Strauss, peça desenhada exclusivamente para o ambiente.

No outro lado a Obra de arte “Semente” de Clara Fernandes feita com papel craft, fio de seda e paina de embiruçu embeleza o living com o banco Blade em palha papel e a poltrona May. Atrás do sofá “Camadas” as obras “minha terra está em mim” de Shirley Paes Leme e “Em direção das montanhas a liberdade da rota era vazia e iluminada” de Gustavo Moreno, que pontua esse trabalho com uma narrativa do livro “A maça no escuro” de Clarice Lispector.

O lavabo é marcado pelo brilho aquarelado da coleção Gouache Mandarine da Portobello, no teto , parede lateral e usado no tampo da bancada, desenhada pela arquiteta e executada pela marca. A cuba Melanina em caramelo fosco e a torneira Tube em corten são da Deca. O espelho amórfico Stone da Latoog complementa a área. Acima da bancada, a luminária Canoa de Ana Neute resgata nossa cultura em formato e conceito. Aqui a parede de bronzite maciça em seu estado bruto é um convite ao toque e para recarregar as energias.

Arquiteta Ju Pippi ( Crédito de foto: Gabriela Daltro)


Da redação