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OUI, NÓS TEMOS CINEMA FRANCÊS NA ILHA!
Filme “Eu, Mamãe e os Meninos” trata de forma divertida a formação da sexualidade

O filme trata do preconceito pelo lado avesso: o de um jovem que recebe a imposição de ser gay pela família Fotos: Divulgação

Publicado em 24/04/2014



Depois de quase duas semanas viajando pela França e já com os ouvidos habituados à sonoridade toda particular e charmosa da língua, resolvi, assim que voltei para Floripa, assistir a um dos filmes franceses que fez sucesso no Festival Varilux de Cinema Francês desse ano.

Trata-se do “Eu, Mamãe e os Meninos”, versão ao original Les Garçons et Guillaume, à Table!, dirigido e também protagonizado por Guillaume Gallienne. Aliás, esse é um dos grandes baratos do filme, porque Guillaume, além de ser ele mesmo na ficção e de ter ele próprio escrito o roteiro pra o teatro e para o cinema, interpreta também o papel da sua mãe, com quem tem uma complicada, e nem por isso menos divertida, relação. Sim, é uma comédia. Porém sutil, como são as comédias francesas, quase uma brincadeira sobre a formação da sexualidade.

Mas vamos à história: quando criança, Guillaume Gallienne ouvia a mãe chamar os irmãos por “meninos” e ele pelo primeiro nome, sem incluí-lo no coletivo masculino. Ela dizia, por exemplo, “meninos e Guillaume, à mesa”, frase que deu o título original ao filme. A mãe tratava Guillaume como menina. Ele cresceu acreditando que era gay. Apesar da rejeição do pai à suposta opção sexual de Guillaume – chegou a colocar o filho em internatos masculinos para ver se mudava o rumo da história - o rapaz tenta encontrar sua sexualidade e decide viajar para um SPA na Baviera. E por que a Baviera? Porque lá tem os castelos do monarca Ludwig, cenário que Guillaume fantasiava em sua adolescência ser a Sissi (lembram da lindíssima Imperatriz da Áustria?). E para isso ele justifica “Se devo me tornar homossexual, por que não me inspirar nos mais ilustres?”.

É um conflito divertido, de idas e vindas, e diálogos surreais com a sua mãe onipresente. Diferente de tantas pessoas que sofrem para contar aos pais que são gays, esse filme trata do preconceito pelo lado avesso: o de um jovem que recebe a imposição de ser gay pela família, não consegue ser homossexual e sofre para provar – inclusive para si mesmo - que é hétero. E é essa descoberta, por linhas tortas, que torna o filme envolvente. Mas fica a dica: não espere uma comédia leve para ser vista em família numa tarde de domingo regada à pipoca. É um tema forte, tratado com humor refinado, que tem como pano de fundo questões pesadas, como preconceito, bullying e hipocrisia social.




“Eu, Mamãe e os Meninos” ganhou o César desse ano, a maior e mais importante premiação do cinema francês, em nada menos que cinco categorias: Filme, Filme de estreia, Roteiro adaptado e Edição. O filme vale os 80 e poucos minutos que vai consumir do seu tempo livre e dos mais de dois milhões de espectadores que já conferiram a estreia de Guillaume Gallienne nas melhores telonas francesas.

*Karin é jornalista, empresária, mãe, corredora, blogueira, gastrônoma, viajante e nas horas vagas assiste a um filminho.