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Edson Busch Machado: um curador com a arte no sangue
Irmão do artista plástico Juarez Machado, ele se dedica ao cenário cultural há mais de cinco décadas

Apaixonado pelas artes, Edson dissemina seu talentos nas artes por vários locais do Brasil e do mundo (Fotos: Acervo pessoal) **Clique para ampliar

Publicado em 19/09/2022

Nascido em Joinville, Edson Busch Machado tem a arte no sangue. Atuante há mais de cinco décadas como artista visual, curador de exposições e gestor cultural, vive em Florianópolis há duas décadas. Bacharel em Jornalismo pela UFPR, Edson estudou na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, em Curitiba. Ao longo de sua carreira, foi presidente da Fundação Cultural de Joinville, do Instituto Festival de Dança, diretor geral do Sistema Estadual de Museus do Paraná, dentre outras funções importantes na área cultural. Atualmente, ele é presidente do Instituto Internacional Juarez Machado, dedicado às obras de seu irmão, o artista plástico Juarez Machado. 

Conte-nos um pouco como foi a infância e a juventude com seu irmão Juarez. Quando e como a arte entrou na vida de vocês? 

As artes e a cultura sempre fizeram parte de nossas vidas - minha e do meu irmão Juarez - no círculo familiar. Nosso pai, um caixeiro viajante que colecionava antiguidades e objetos malucos, e nossa mãe, operária de fábrica que pintava leques à mão, foram referências importantes na formação do caráter, da curiosidade pelo inusitado e da sensibilidade pelas artes e pelo conhecimento. 

Uma família de poucas posses vivendo numa cidade progressista e eminentemente industrial - Joinville - que ouvia muita música em casa, se encantava com a literatura, visitava museus e exposições, frequentava as sessões de cinema, se cercava de elementos criativos para se sustentar. Sempre trocávamos conversas e ideias em conjunto na mesa de jantar (não tínhamos televisão) sob o tic-tac dos pêndulos dos muitos relógios antigos de parede que os meus pais colecionavam. Creio que a arte nasce nos irmãos Machado dessas primeiras experiências em família. 

Qual foi seu primeiro trabalho no mundo das artes visuais? O que mudou nessas últimas décadas? A arte hoje está mais acessível para a população em geral? 

Tive o estímulo às artes na escola pública estadual, em Joinville, aos nove anos de idade selecionado para representar o Estado de SC no 2º Salão de Arte Infantil em São Paulo. Inicíei a carreira de artista como desenhista de humor em 1970, realizando mais de 300 exposições no país e no exterior. Mas, foi em 1976, com 23 anos, que, a convite do então prefeito Pedro Ivo Campos, fundador e primeiro diretor do Museu de Arte de Joinville (
MAJ), refiz o rumo agregando a profissão de gestor, curador e articulador cultural. Em 1987, o então governador Pedro Ivo me trouxe a Florianópolis para dirigir o Centro Integrado de Cultura (CIC), e depois residi muitos anos em Curitiba assessorando, na área cultural, os governadores do Paraná, Roberto Requião e Jaime Lerner.

Posso dizer que muito mudou de lá para cá, para o bem e para o mal (risos). Se por um lado temos hoje o poder da tecnologia e a rapidez nas comunicações, por outro lado percebo a cultura tratada com descaso e desrespeito em muitos governos e, - mais cruel -, a inércia de grande parcela da sociedade, que só busca o acesso aos eventos de entretenimento e menos à interpretação do conteúdo. 


Edson com o irmão, o consagrado artista plástico Juarez Machado

 

O sucesso de Juarez Machado orgulha Santa Catarina. Você poderia antecipar o que vem por aí envolvendo o grande artista joinvilense? 

Juarez Machado pode ser considerado um artista pop star. É raro, no Brasil, um pintor ser solicitado a dar autógrafos quando sai às ruas ou em restaurantes. É conhecido, reconhecido e respeitado por sua arte e por sua figura pública. Catarinense de Joinville, teve que sair jovem da cidade-natal em busca de seu sonho. Completou em março, 81 anos de idade (quase 40 vividos em Paris), e, recentemente, eu e ele montamos a exposição retrospectiva em sua homenagem "Volta ao Mundo em 80 Anos", no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, com recorde de visitantes: cerca de 65 mil pessoas até agora.

É difícil dizer o que esperar hoje do Juarez. Sua capacidade criativa é imensa, ultimamente vem desenhando calmamente numa fazenda histórica no interior do nosso país (Rio de Janeiro), e acompanhando - à distância - a dinâmica programação das exposições, cursos, lançamento de livros, apresentações de música, dança e teatro do Instituto Internacional Juarez Machado, com sede em Joinville. 

Vocês tiveram forte apoio do ex-governador Luiz Henrique da Silveira. O Centroeventos Cau Hansen mudou o panorama cultural em Joinville. Como você avalia hoje em dia o apoio do setor público às iniciativas culturais? 
 
A parceria com o Luiz Henrique foi produtiva, ousada, moderna e com excelentes resultados sociais e culturais para a comunidade. Idealizamos e construímos juntos, quando então prefeito, os alicerces do Centreventos Cau Hansen, da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, da Cidadela Cultural Antarctica, do Instituto Festival de Dança, do Teatro Juarez Machado e outras tantas ações de políticas públicas.

E, quando governador, acompanhamos e participamos do seu modelo de descentralização por toda Santa Catarina, contextualizando esse mesmo conceito em minha gestão frente à presidência da Fundação Catarinense de Cultura e nos governos posteriores na Secretaria Executiva de Assuntos Internacionais, como diretor de Cooperação Internacional. atuando com a paradiplomacia. Ou seja, embora seja uma questão polêmica, nossa missão pública é a de também estimular o empreendedorismo cultural. Creio que hoje o setor público ainda carrega vícios paternalistas e, sobretudo, vinculados a discursos partidários. A cultura deve ser livre, incondicional e para todos. 

Você é hoje talvez o mais importante curador de arte de Santa Catarina. Fale-nos sobre essa atividade. Como vai a evolução da arte catarinense? Há novos nomes em ascenção? Qual conselho daria aos jovens pintores? 

Gentileza dos editores do Imagem da Ilha posicionar-me entre os principais curadores do Estado. Considero-me pelo trabalho que desenvolvo um "Operário da Cultura" (risos), e muitas vezes me vejo apenas como o "colono social" (mais risos). Tento imprimir nas curadorias uma dinâmica de incentivo aos novos talentos artísticos locais, abrindo oportunidades de exposições, de diálogos com o público, de abertura de novos espaços, de criatividade irrestrita, e também trazendo nomes internacionais das artes para o público de Santa Catarina, como foram as exposições do catalão Joan Miró e dos artistas da Noruega, do Canadá, da Argentina e dos Açores.

Os próximos contatos estão sendo com a Suécia e a Itália, para o próximo ano. A arte catarinense mostra-se cada vez mais múltipla, diversificada, antenada aos ditames contemporâneos. A lamentar a falta de união da categoria artística, às vezes o autofagismo e a ausência de políticas públicas para acervos de museus e dinâmicas de gestão em centros de cultura. Se pudesse dar um conselho a artistas, gestores, curadores e até aos políticos neófitos em geral, diria: sejam curiosos!

Você tem algum sonho que deseja realizar a curto prazo?  

Viver cada dia já é uma grande e prazerosa aventura (risos). Mas, tenho muitos sonhos, claro, e são tantos, alguns misturados, outros compartilhados, e por aí vai. Na juventude sonhava ser cineasta e, assim, fui estudar Jornalismo e também Belas Artes em outra cidade. O mais recente, entretanto, e que está em andamento, é a publicação de um livro com a compilação de diversos textos que publiquei em jornais, revistas, folhetos de exposições, prefácios de livros, catálogos, etc, desde a década de 1970.

Será uma síntese do meu pensamento na área da cultura, das artes, da gestão da cultura, do patrimônio, da economia da cultura, sobretudo para documentação, registro,  pesquisa e consulta dos artistas e estudiosos. Elaboro ainda um livro infantil e uma exposição de fotografias artísticas. Ah, e também a organização definitiva documental do Instituto Internacional Juarez Machado e seu acesso livre ao público. A curtíssimo prazo. realizo nesta semana (dia 20 de setembro) uma viagem à Salamanca, na Espanha, em companhia de minha mulher Eula Maciel. 

Você também é um artista premiado. Quais são as novidades do seu trabalho? 

Sempre digo que a alma do artista nunca morre, e é essa vivência com a sensibilidade que tem contribuído para as minhas ações de curador e de gestor. Em novembro de 2022 estarei completando 70 anos de idade e 52 de arte, computando nesse tempo alguns prêmios em Salões pelo país e exposições importantes como a 16ª Bienal Internacional de São Paulo, nos espaços da Funarte, e em museus e centros de cultura na França, Rússia, Japão, Estados Unidos, México e outros países.

Também me orgulho por ter obras em praça e demais espaços públicos propondo a democratização da arte. Prossigo desenhando, pintando e provocando minha inquietação pelas artes (risos) na casa/ateliê nesta bela Ilha de Santa Catarina onde resido há vinte anos no Saco Grande, um bairro tranquilo e inspirador. Uma vez ao mês vou a Joinville, onde dirijo o Instituto Internacional Juarez Machado, para reunir-me com a equipe que lá trabalha, e também à São Joaquim, na Serra Catarinense, onde presto assessoria cultural a uma vinícola de altitude. E me realizo escrevendo sobre os trabalhos dos artistas e sobre o movimento cultural visando a inclusão do Estado de Santa Catarina no cenário nacional e até internacional.  

Por Urbano Salles

Da redação

 
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