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Ex-ministro do Turismo Vinicius Lummertz avalia temporada

Catarinense atualmente preside conselho de grupo com hotéis em vários estados (Fotos:Arquivo Pessoal)

Publicado em 12/01/2024

Imagem da Ilha: Estamos em plena temporada de verão. O senhor tem uma visão ampla da atividade turística em todo o país. Balneário Camboriú e Florianópolis tiveram um réveillon movimentado. Nas redes sociais, as duas cidades apareceram como "rivais" na realização da melhor festa da virada em SC. Qual venceu essa "disputa"?

Vinicius Lummertz: Boa rivalidade. Gera milhares de empregos, investimentos e impostos milionários. O Estado ficou lotado no Réveillon. Teve praticamente um “overbooking”. Bateu todos os recordes de ocupação, inclusive pressionando a infraestrutura que não tem evoluído na mesma proporção - tem um sinal de amarelo para vermelho neste ponto. Aconteceram eventos de virada em todo o litoral - eu mesmo, passei em São Francisco do Sul. Os de Florianópolis e de Balneário Camboriú foram os maiores. Pelo que foi relatado pela imprensa, este ano o de maior destaque foi o de Balneário Camboriú entre os dois belos eventos. Como Secretário de Turismo da Capital, eu já organizei um Réveillon, foram muitas balsas de fogos e tivemos a Paula Fernandes patrocinada pela Nestlè. Lotou a beira-mar mesmo com chuva. E emplacamos muita mídia por conta da ressaca em Copacabana (risos). O fato é que as festas de Réveillon no Brasil são as melhores do mundo.

Imagem da Ilha: Muitos reclamam que fazer turismo em Florianópolis é caro. Na comparação com a média geral de cidades turísticas, isso é verdade?

Vinicius Lummertz: Um pouco mais cara por conta da demanda sazonal. Alguns agentes cobram mais caro porque o turismo cai muito ao longo do ano, e é isso que precisa ser objeto de um mutirão. No geral, é o Brasil que é um país caro, por conta de excessos de impostos, burocracias, ineficiências e juros altos. Florianópolis tem um turismo razoavelmente qualificado, sobretudo como reflexo da organização e qualificação cultural e social da sua sociedade - mas temos muito que melhorar. Florianópolis, a melhor cidade do Brasil, não é uma simples cidade turística. É capital política e administrativa do melhor Estado do Brasil. É capital tecnológica. Precisa ser metrópole cultural; pode ser capital náutica, de turismo ecológico em parques, e de eventos. Mas, a infraestrutura ficou para trás. Vejamos o Centro Eventos no desorganizado aterro da baía sul e o CIC, simplesmente envelheceram. O aterro da baía sul e o da expressa sul estão anulados. E o Centro de Convenções de Canasvieiras não decolou. O maior salto foi dado na gastronomia que melhorou muito. Aqui ainda não temos muitos hotéis e resorts de cinco estrelas, e poucos de quatro estrelas apesar de termos um bom parque hoteleiro no seu conjunto - mas já temos o melhor aeroporto do Brasil.

Imagem da Ilha: O Brasil é mais caro que os Estados Unidos, por exemplo, não!?

Vinicius Lummertz: De fato, os preços brasileiros regulam com os dos EUA e Caribe em hotelaria, porém a renda deles sendo muito mais alta, fica bem mais barato por lá. No aéreo, por exemplo, os preços nos EUA são parecidos com os do Brasil. Mas como eles ganham mais, fica bem mais barato para eles. Como tem escala, também competem melhor nos altos volumes. Além disso, também as empresas e os trabalhadores lá ganham mais. Aqui, grande parte do faturamento das empresas acaba em juros, burocracia, insegurança jurídica e impostos. Aqui se trabalha morro acima. Lá, se trabalha morro abaixo.

Imagem da Ilha: O Carnaval será no começo de fevereiro, encurtando a temporada. Qual será o tamanho do prejuízo provocado por esse fato? 

Vinicius Lummertz: Não há prejuízo pelo carnaval. Há lucro no carnaval. Se a temporada encurta é também por falta de outros atrativos na sequência do calendário de verão. Observo que tanto a Prefeitura quanto o Governo do Estado estão caminhando na direção de diminuir a sazonalidade excessiva - essa sim geradora de deformações em custos e qualidade. É preciso desenvolver um plano concreto, detalhado e negociado entre todos os interessados, com ampla participação dos governos e empresários dos setores turísticos e de eventos, para a construção de um modelo com calendários de feiras e congressos, festas e esportes que derrubem a dependência dos picos de verão. Um bom exemplo é o verão de Gramado do longo Natal Luz que movimentou a serra também no verão. O Iron Man é um bom exemplo aqui.

Imagem da Ilha: Qual sua expectativa sobre a vinda de argentinos ao estado? 

Vinicius Lummertz: A vinda dos argentinos está prevista para aumentar. Temos que continuar a buscar os turistas do Cone Sul da América Latina. Mas, de fato, não temos ainda produto para um turismo de classe A, seja dos países vizinhos ou dos Estados mais ricos do Brasil. Estamos num nível intermediário, e que requer mais volume de visitantes. Nosso objetivo deveria ser o turismo de mais alta renda e educação possíveis ao longo do maior número de meses do ano.

Imagem da Ilha:  A inauguração da nova estrutura criada a partir da privatização do aeroporto de Florianópolis, hoje Floripa Airport, completa cinco anos em 2024. O que pode melhorar para usuários e companhias?

Vinicius Lummertz: O novo aeroporto foi uma boa lição prática contra alguns comportamentos ranzinzas de nossa cidade - especialmente os ideológicos de esquerda que não aceitam participar da vida comunitária da cidade. Eu pude fazer o projeto do acesso ao aeroporto quando fui Presidente da SC Parcerias. Mas, muito foi feito para atrasar o processo. Eu também me lembro de uma reunião na qual a Infraero propôs um modelo de aeroporto muito limitado e feio - e da reação do então Governador Luis Henrique para que fosse feito um concurso de projetos. Foi feito e valeu a pena.

Imagem da Ilha:  O que pode ser feito para baixar os preços das passagens aéreas?

Vinicius Lummertz: No meu período como Ministro, durante a crise da Avianca, abrimos a participação do capital internacional nas nossas aéreas. Não foi suficiente. Com os custos em dólares, combustível caro, leasing e seguros em dólares, é preciso pensar numa ampla reestruturação do setor. Como secretário de Turismo de São Paulo, baixamos o ICMS sobre o combustível de 25 para 12 por cento. Aumentamos o número de voos com mais de 700 frequências semanais, interligamos 12 cidades do interior e recebemos apoios em mídia e promoção. Também privatizamos os aeroportos do interior. Não existe uma medida. São muitas. 

Imagem da Ilha: Atualize o público do Imagem da Ilha: quais são suas principais atividades em curso? Pretende voltar a se candidatar a algum cargo eletivo? E João Dória? É opção para 2026?

Vinicius Lummertz: Hoje eu presido o Conselho do Grupo Wish de Hotéis, com hotéis em vários estados; e presto assessoria a outros grupos de turismo como a Gramado Parks e o Grupo Senpar. Eu continuo acompanhando a vida política do país, e tenho interlocutores em muitas partes do país. Dou entrevistas, faço palestras e escrevo artigos. Continuo colaborando como posso. Sobre o João Doria, quero dizer que foi um grande governador - e faço parte do Lide Nacional ao lado dele - e ele também está fora de eleições. Eu tive também a sorte de ter trabalhado com Michel Temer, Fernando Henrique e Luis Henrique.

Entrevista por Urbano Salles

  

 

 

 

Vinicius Lummertz foi ex-Secretário de Estado de Relações Internacionais no governo Luiz Henrique da Silveira (SC), ex-Presidente da Embratur no Governo Fernando Henrique Cardoso, ex-Ministro do Turismo no Governo Temmer e ex-Secretário de Turismo de São Paulo no Governo João Dória.