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Gisele Batista comenta o Forum Brasil de ODS 2023 realizado na ALESC
Especialista em ESG traz luz a importantes temas como as mudanças climáticas

Gisele Batista é Coordenadora de Mobilização Adjunta do Movimento Regional ODS SC e foi eleita uma das 10 vozes mais influentes do Brasil sobre os temas de ESG e Sustentabilidade pelo TOP Voices LinkedIn 2023 (Foto: Diorgenes Pandini) **CLIQUE PARA AMPLIAR

Publicado em 24/11/2023

Entrevista para o Portal Imagem da Ilha com Gisele Batista, Coordenadora de Mobilização Adjunta do Movimento Regional ODS SC, eleita entre uma das 10 vozes mais influentes do Brasil sobre os temas relacionados à ESG e Sustentabilidade pelo TOP Voices LinkedIn 2023.

 

1. Qual é o propósito do Movimento Nacional dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) Brasil? Qual é a importância de estar à frente do Movimento ODS Santa Catarina como coordenadora adjunta de mobilização? Quais são os principais desafios do nosso estado?

Resposta: O Movimento Nacional ODS SC faz parte de uma rede nacional com núcleos em 15 estados brasileiros, e se caracteriza como um movimento voluntário de caráter suprapartidário, plural e ecumênico. É formado por mais de 1600 signatários, distribuídos em 14 comitês locais, que representam diversos setores de nosso Estado (empresas privadas, organizações sociais, entidades públicas, universidades e pessoas físicas). A adesão ocorre de forma voluntária e sem custos e os participantes devem demonstrar suas ações em 01 (ou mais) dos 17 objetivos do desenvolvimento sustentável que compõem a Agenda 2030 da ONU. 

A representatividade do movimento para a promoção da sustentabilidade em SC está em sua capacidade de mobilizar pessoas e organizações, bem como disseminar conhecimentos e boas práticas que envolvam os ODS em Santa Catarina. Isto é importante, pois nosso Estado possui muitos problemas socioambientais que precisam de soluções imediatas como a questão de água e saneamento básico (ODS 06), regenerar nossos ecossistemas terrestres (ODS 15) e cuidar dos oceanos (ODS 14), além de buscar reduzir os impactos dos eventos extremos decorrentes das mudanças climáticas (ODS 13). Esses são apenas pequenos exemplos da relevância da Agenda 2030 para a qualidade socioambiental em SC.

 

2. Nos dias 26 e 27 de outubro, ocorreu na Assembleia Legislativa o Fórum Brasil ODS 2023. Quais foram os objetivos do evento? Quais foram os principais temas discutidos?

Resposta: O Fórum Brasil ODS é um dos eventos promovidos pelo Movimento Nacional ODS SC e ocorre a cada 2 anos. Em 2023, o evento aconteceu na ALESC e teve como tema principal o ODS 6 - Água e Saneamento, e reuniu especialistas técnicos e acadêmicos, empresas públicas e privadas e representantes da sociedade civil para debater a importância da água para a manutenção da vida no planeta. Foram discutidas questões relevantes e atuais para a economia do Estado, como segurança hídrica e as mudanças climáticas, soluções para a qualidade da água e a importância da universalização do saneamento básico em Santa Catarina. Mas, também, o tema da água foi abordado do ponto de vista social, especialmente o acesso em qualidade de quantidade de água para as populações mais vulneráveis, que são as que mais sofrem com a crise hídrica. 

 

3. Qual foi o resultado final do Fórum Brasil ODS?  Qual é a importância deste evento?

Resposta: O Fórum Brasil ODS foi um sucesso (isto dito pelos próprios palestrantes e participantes), pois não foi um evento acadêmico. Ele se caracterizou como um espaço democrático para discutir questões e ações essenciais ao alcance da sustentabilidade de Santa Catarina e do Brasil. Temos muito que avançar na Agenda 2030 e temos poucos anos para colocar tudo em prática. Por isso, temos que trazer o debate para a sociedade, porque a sustentabilidade se faz no coletivo, a partir de olhares plurais. Como foi ressaltado no Fórum, se em 2030 não tivermos um mundo melhor para todos e todas, não teremos um mundo sustentável para ninguém. Quero aproveitar para deixar o convite aqui para o próximo Fórum Brasil ODS, que deverá ocorrer em 2025, ano em que o Brasil recebe a COP30 – reunião mundial para discutir sobre as mudanças do clima do Planeta.

 

4. Atualmente, muito se fala sobre o termo ESG nas empresas, mas quais são as características fundamentais que tornam uma empresa sustentável? Como você avalia a prática de ESG nas empresas catarinenses? Poderia citar algumas empresas do nosso estado que são referência nesta área?

Resposta: O ESG veio para ficar e isto posso afirmar como especialista na área. O ESG expressa as práticas de sustentabilidade de uma empresa, mostrando os principais avanços da organização quando coloca em prática ações ambientais, sociais e de governança. Uma empresa que, por exemplo, se preocupa com a otimização do uso da água, faz a gestão correta dos seus resíduos sólidos, cuida de seus colaboradores e da comunidade de entorno, e trabalha de forma ética e transparente, já faz ESG. Contudo, o mercado está cada vez mais exigente e tem cobrado por posturas mais sustentáveis das empresas, fazendo com que elas implementem uma agenda ESG em seus processos, como forma criar produtos e serviços que atendam as expectativas de consumidores mais conscientes. Recentemente, foram criadas algumas normativas que estão orientando as empresas, ao mesmo tempo que provocam um estreitamento à adoção das práticas ESG para reporte de relatórios financeiros e contábeis. Mas sempre existem aquelas empresas que saem na frente, e adotam a sustentabilidade porque realmente acreditam que isso é o certo a ser feito! São as denominadas “empresas conscientes” – dentro no conceito do Capitalismo Consciente, e trabalham por um propósito maior, buscando gerar resultado econômico ao mesmo tempo que criam valor compartilhado aos seus stakeholders. Santa Catarina possui bons exemplos de empresas sustentáveis, inclusive as boas práticas foram reconhecidas pelo Prêmio ODS SC 2023, a exemplo do CGT Eletrosul, que teve um projeto de compostagem vencedor na categoria Empresa Pública ou Privada. Outros exemplos também foram apresentados no Fórum, no Painel Compromisso das Empresas com os ODS, com exemplos bem sucedidos de empresas como a AcelorMittal Vega, da AEGEA, da Unicred Central Conexão, do Ailos Sistema de Cooperativas e da Portonave S/A - Terminais Portuários de Navegantes. São empresas que têm se preocupado não somente com a visão tradicional dos negócios tendo o lucro em primeiro (e único lugar), mas sim com desenvolvimento econômico aliado ao desenvolvimento social e ambiental. As mudanças climáticas estão aí e não temos muito tempo para esperar para as próximas gerações de empreendedores, para tornar o planeta mais sustentável. Para assistir as palestras e painéis do Fórum, é possível acessar os conteúdos disponibilizados no site do Fórum: https://forumbrasilods.com.br/como-foi/.

  

5. Infelizmente, o impacto das mudanças climáticas atinge todos os países. No Brasil, já estamos sendo impactados de modo extremo, tanto pela seca na Amazônia quanto pelas enchentes e ciclones no sul do país. Na sua visão, como os gestores públicos podem ajudar a transformar e a diminuir esses impactos nas comunidades mais suscetíveis às mudanças climáticas?

Resposta: Nas últimas semanas, presenciamos uma série de eventos climáticos que trouxeram prejuízos econômicos e perdas de vidas em Santa Catarina. Foram mais de 90 municípios catarinenses afetados por fortes chuvas e milhares de pessoas e negócios que ficaram em estado de emergência depois dos temporais. E as previsões apontam para a intensificação desses eventos nos próximos meses, em virtude das ações do fenômeno El Niño, que deve gerar chuvas intensas na região sul e desencadear mais eventos extremos. Precisamos sair da cultura do “esperar a catástrofe acontecer” para agir. 

Segundo apuração da Agência Pública, em julho deste ano, o Município de Florianópolis/SC, assim como muitas outras capitais nacionais, não possui um plano de ação para mitigação das mudanças climáticas. E aqui estamos falando do ODS 13 - Ação Contra a Mudança Global do Clima, que indica que precisamos reforçar nossa capacidade de adaptação a riscos relacionados ao clima e às catástrofes “naturais”. Os aspectos geográficos e as interferências humanas no ecossistema colocam a cidade de Florianópolis numa situação de grande exposição e vulnerabilidade diante dos fenômenos resultantes do aquecimento global. Então, é preciso se planejar, se antecipar para reduzir ou mitigar os impactos negativos do aquecimento global, especialmente, no que se refere ao cuidado com a vida. Precisamos sair da esfera da contingência para assumirmos uma postura mais proativa enquanto sociedade, pois as mudanças climáticas, e todas as suas consequências, são reais e se caracterizam no maior desafio que a humanidade deve enfrentar nos próximos anos.

Entrevista escrita e produzida por Carolina Coral para o Portal Imagem da Ilha