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Dose terapêutica
A aspirina na prevenção primária das doenças cardiovasculares e do câncer

Os benefícios do medicamento na prevenção das doenças cardiovasculares já são conhecidos. Agora ele tem mostrado efeito protetor também em casos de câncer colorretal (Foto: Reprodução)

Publicado em 25/03/2020

As duas maiores causas de mortalidade e de morbidade no mundo são: as doenças cardiovasculares, que representam 24% de todas as mortes; e o câncer, que representa 13% das mortes. A aspirina é responsável por uma importante redução da mortalidade e da morbidade nos pacientes sobreviventes de doenças arteriais oclusivas no coração, especialmente a angina de peito e o infarto do miocárdio, e também no cérebro, especialmente o AVC.

Na prevenção secundária de eventos vasculares cardíacos ou cerebrais (pessoas que já tiveram infarto ou AVC), a proteção da aspirina supera em muito os riscos de sangramento maior ou da gastrite que ela possa causar. Todavia, na prevenção primária, que é aquela realizada em pessoas aparentemente saudáveis, a relação risco-benefício não é tão clara.

Os benefícios da aspirina na prevenção das doenças cardiovasculares já são conhecidos há décadas, mas estudos recentes têm demonstrado o efeito de sua proteção na prevenção de câncer colorretal. A tendência nos dias de hoje, na prevenção primária das doenças cardiovasculares e do câncer colorretal, é o médico compartilhar com o paciente a decisão de usar ou não a aspirina com essa finalidade, explicando a ele o peso dos seus benefícios e dos seus riscos. 

A aspirina produz um efeito clinicamente relevante nas plaquetas, inibindo a sua agregação e fazendo com que o sangue tenha uma redução da capacidade de formar coágulos. Esses efeitos podem ser conseguidos com uma dose tão pequena quanto 75mg ao dia, podendo chegar até a 200mg por dia. Doses mais altas do que 200mg do medicamento passam a ter também um efeito analgésico e antipirético.

Explicações plausíveis sobre seus efeitos em casos de câncer colorretal estão em alguns estudos recentes que se baseiam na indução da apoptose celular e na inibição da produção de prostaglandina. O estudo ASCEND envolveu 15.480 pacientes com diabetes (94% com diabetes tipo 2), mas nenhuma evidência de doença cardiovascular. Os pacientes foram randomizados para tomar aspirina 100mg por dia ou placebo. A maioria dos pacientes estava tomando medicação anti-hipertensiva e estatinas. Mais do que 80% dos pacientes eram de baixo ou moderado risco para eventos cardiovasculares (menos de 10% em cinco anos). O risco de morte de qualquer causa foi de 9,7% no grupo que tomou aspirina contra 10,2% no grupo que fez uso de placebo, durante um período de acompanhamento de 7,4 anos.

 


Sobre o autor

Dr. Jamil Mattar Valente

Médico cardiologista e responsável pela coluna de medicina preventiva do Jornal Imagem da Ilha


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