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O calor pode afetar a sua saúde ginecológica?

Foto: Reprodução/Internet

Publicado em 24/09/2021

Vivemos no Brasil, onde o clima costuma ser quente em diversos momentos, o ano todo. É importante nos protegermos, lançando mão do protetor solar, e também reconhecendo que o calor pode impactar o nosso corpo de maneira geral, e especificamente em relação à saúde ginecológica.

Com o calor, aumentam os casos de uma das doenças que mais afetam a saúde feminina: a candidíase. Trata-se de uma infecção localizada nas regiões da vulva e da vagina, causada por um fungo, em geral a Cândida Albicans. Para evitá-la, além de ficar espertos ao consumir alguns alimentos, os cuidados com a higiene pessoal devem ser redobrados nesta época do ano, onde há o aumento da temperatura.

A ginecologista Dra. Camila Ramos explica que o calor causa a alteração da acidez na vagina e a redução dos bacilos de defesa da flora de proteção, facilitando a proliferação da doença. “Inchaço, coceira, inflamação vulvar e vaginal, além de secreção esbranquiçada e densa, são os principais sintomas da candidíase. A doença tem a alteração da flora vaginal, sua principal causa”, ressalta a médica.

No entanto, vários alimentos e mudanças na dieta também podem ajudar. De acordo com a nutricionista Luna Azevedo, referência em alimentação plant-based, a saúde de seu sistema digestivo depende muito de um bom equilíbrio entre as bactérias “boas” e “más” que vivem em seu intestino. As bactérias “boas” que normalmente residem em seu intestino são importantes para a digestão, pois ajudam a processar amidos, fibras e alguns açúcares.

Quando a microbiota intestinal fica desequilibrada, você pode ter problemas digestivos, incluindo prisão de ventre, diarreia, náusea, gases, cólicas e distensão abdominal. Da mesma maneira, tendo em vista que todos nós temos o fungo Candida albicans no intestino, seu aumento pode nos trazer um desequilíbrio (disbiose), gerando prejuízos para nossa saúde. "Estudos recentes indicam que um supercrescimento de Cândida está associado a várias doenças do trato gastrointestinal, incluindo colite ulcerativa e doença de Crohn", ressalta a nutricionista.

A ginecologista recomenda algumas dicas para você aproveitar a temporada de primavera-verão sem ter dor de cabeça:

●   Mantenha sua área vaginal limpa. Use água e sabão neutro sem cheiro. Enxágue bem.

● Depois de usar o banheiro, limpe da frente para trás para evitar espalhar leveduras ou bactérias de seu ânus para a vagina ou trato urinário.

● Use roupas íntimas que ajudem a manter a área genital seca e não retenha o calor e a umidade. Uma boa opção é a roupa íntima de algodão.

●  Evite roupas justas, como meia-calça e jeans justos. Isso pode aumentar o calor corporal e a umidade na área genital.

● Troque o maiô molhado imediatamente. Vestir um maiô molhado por muitas horas pode manter sua área genital quente e úmida.

● Troque os absorventes ou tampões com frequência.

● Não use desodorantes ou sprays, perfumes. Esses itens podem alterar o equilíbrio normal dos organismos em sua vagina.

Alimentos que podem ajudar

O mais importante no que se refere ao tratamento da infecção pela Candida é melhorar a função digestiva e o sistema imunológico, assim ela não encontrará ambiente propício para o crescimento excessivo, então a alimentação pode garantir que a Candida não aumente sua colonização ou que tenha um crescimento insignificante. Vamos entender agora quais alimentos atuam como antifúngicos e quais corroboram na proliferação de bioagentes patogênicos, de acordo com a nutricionista Luna Azevedo:

1. Óleo de coco

Estudos com ácido láurico, um ácido graxo saturado amplamente estudado por seus efeitos antimicrobianos e antifúngicos, mostram que é muito eficaz contra as leveduras Candida albicans. O óleo de coco tem quase 50% de ácido láurico, e isso o torna uma das fontes dietéticas mais ricas desse composto, que raramente ocorre em grandes quantidades nos alimentos. Além disso, um estudo feito por Crook (1995) na Universidade de Iceland mostrou que o ácido caprílico, também encontrado em óleos de coco, foi eficaz e rápido na eliminação de três espécies de Candida.

2. Probióticos e prebióticos.

Vários fatores podem tornar algumas pessoas mais propensas a infecções por Candida, incluindo diabetes e um sistema imunológico enfraquecido ou suprimido. Os antibióticos também podem aumentar o risco, já que dosagens fortes às vezes matam uma parte das bactérias benéficas do intestino. 

Essas bactérias fazem parte das defesas naturais do seu corpo contra as leveduras Candida. Eles protegem contra infecções competindo com eles por espaço e nutrientes. 

Os probióticos podem ajudar a restaurar essas populações de bactérias benéficas, pois são microrganismos que atribuem auxílio à saúde do hospedeiro quando utilizados da maneira correta. Já os prebióticos são elementos alimentares não digeríveis pelo organismo, sendo os principais a inulina e frutooligossacarídeos (FOS), e têm a função de estimular e proliferar a atividade das bactérias benéficas do intestino, contribuindo também, na absorção de minerais. E, de forma paralela, têm a capacidade de inibir o crescimento de bactérias patogênicas. Alimentos que contém tais componentes englobam cenoura crua, couve-flor, repolho, cebola, alho, frutas e cereais.

Estudos indicam que há evidências de que o uso de probióticos em conjunto com a alimentação possa contribuir para a homeostase da microbiota intestinal, seja na prevenção ou no tratamento das perturbações inflamatórias e imunológicas, e os probióticos atuam como recurso terapêutico facilitador no controle de candidíase vulvovaginal, até mesmo na de repetição.

Mas é importante ressaltar que há sempre particularidades que devem ser levadas em consideração, pois em alguns casos, dependendo do grau do desequilíbrio das bactérias intestinais, da gravidade da candidíase e da existência de alguma outra doença como a SIBO (síndrome do supercrescimento bacteriano), o uso tanto de probióticos, como o de alimentos fermentados (como kombucha, kefir, chucrute, picles), podem agravar ainda mais. Por isso é importante que o consumo de probióticos seja sempre orientado por um médico ou nutricionista.

3. Uma dieta com baixo teor de açúcar e farinhas refinadas 

O açúcar modifica o pH intestinal, deixando o ambiente alcalino, o que favorece a proliferação dos fungos e a diminuição das bactérias não-patogênicas que protegem o meio. Além disso, esses fungos liberam uma toxina que interfere em alguns neurotransmissores, o que aumenta o desejo em comer doces, já que os fungos precisam de açúcar para sobrevivência. A ingestão de carboidratos refinados e simples, como biscoito, arroz, macarrão e pão branco, também devem ser evitados, pois são rapidamente absorvidos pelo organismo em forma de glicose.

4. Diminuição do consumo de leites e derivados

A lactose, açúcar do leite, é um tipo de carboidrato altamente fermentável, que promove o crescimento de Candida, sendo assim, o seu consumo pode favorecer ainda mais a proliferação de fungos e bactérias lácteas, grandes causadoras de doenças como candidíase e cistite. 

5. Alho

O alho é um alimento funcional rico em alicina que possui ação antiviral, antifúngica e antibiótica, e contém considerável teor de selênio agindo como antioxidante. O alho fresco (Allium sativum) amassado também apresenta atividade fungicida frente a C.albicans, o que o torna uma alternativa para o tratamento de infecções causadas por fungos ou bactérias.

6. Alimentos antioxidantes e outros óleos 

A ingestão de alimentos antioxidantes, como o Cranberry (Vaccinium macrocarpon), por exemplo, pode inibir o crescimento e a adesão de microrganismos na parede do intestino. A cúrrcuma ou açafrão-da-terra também tem sido amplamente estudada quanto ao seu potencial antimicrobiano, anti-inflamatório, nefroprotetor e antioxidante, e seu extrato revelou potente atividade antifúngica sobre a C. albicans, revelando ser um fitoterápico que apresenta efeito inibitório e potencial para controlar o crescimento desta levedura.

Estudos também mostram que a ação dos óleos de cravo e orégano é promissora, já que os efeitos observados são semelhantes aos medicamentos usados no tratamento de candidíase, porém sem afetar a população bacteriana, o que reduziria os riscos de recorrência. 

Resultado final

Os suplementos e alimentos relacionados à candidíase vaginal devem ser utilizados de forma correta como estratégia na sua prevenção e erradicação, após cuidadosa avaliação de um médico e um nutricionista, sendo que bons hábitos alimentares mantêm o pH vaginal equilibrado, evitando o meio mais ácido e consequentemente, impedindo a proliferação do fungo.

Da redação

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