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O que é um colunista? Um personagem, um fofoqueiro ou um escritor?

Todo escritor ou contador de estórias é, no fundo, um fofoqueiro! (foto: Internet) ***CLIQUE PARA AMPLIAR

Publicado em 29/02/2024

Quantas vezes, sem motivo algum, nos pegamos rindo à toa lembrando de alguns momentos de nossas vidas! Ultimamente tenho me surpreendido não só em pensamento, mas falando sobre esses momentos.

Depois de quase trinta anos em uma cozinha, quando só interagia com os comensais no final do expediente do meu Bistrô em uma conversa rápida sobre as impressões do cardápio, hoje, no meu novo modelo de negócio, continuo cozinhando, mas não trancafiado com equipamentos e fichas técnicas... Hoje cozinho junto à mesa dos hóspedes da minha hospedaria, tanto no café da manhã, uma festa de Babette matinal, até nos jantares com cardápios elaborados exclusivos em até 10 tempos.

E nesta posição, atrás de uma bancada e à frente da mesa de jantar e não mais em uma sala/cela/laboratório gastronômico que chamo de cozinha, passei a ser um personagem, o apresentador do espetáculo culinário, praticamente um Chef Silvio Santos... só falta o terno de tergal e o microfone modelo coleira!!! Para ilustrar por que me sinto esse personagem, vale citar uma das estórias que fazem a minha história de vida!

Na passagem de ano 1989/1990, fui convidado por uma amiga, ou talvez algo mais que isso, a passar o réveillon em uma pousada que estava sendo inaugurada em Búzios, cujo dono era um tio dela que fez parte do “jet set” carioca dos anos 1950/60! Vale esclarecer: jet set era a alcunha dada aqueles da alta sociedade, e, segundo descrição do dicionário Aurélio, “termo usado para designar um grupo social com poder aquisitivo suficiente para viajar frequentemente de avião a jato”... os influencers nos tempos de televisão de tubo e rádio de válvulas!! (será que a nova geração de milhares de influencers sabe o que são esses aparelhos??).

Nos dias embriagantes do verão de 1990, esse “tio” era o centro das minhas atenções, com estórias vividas em tempos que o mundo se transformava e tudo acontecia no eixo São Paulo/Rio de Janeiro... Difícil de compreender o quão foram transformadores e originais aqueles anos 50!! As estórias não eram registradas com câmeras de celulares e muito menos em posts de redes sociais. Uma foto era um acontecimento ensaiado e, dificilmente, eram clicadas espontaneamente em meio a um evento! As redes sociais eram os salões do Cad’oro, Clube Paulistano e Copacabana Palace, e os posts eram as colunas do Ibrain Sued e Tavares de Miranda. Escutar aqueles acontecimentos com um dos personagens dessas estórias icônicas me enfeitiçava e me instigava a saber mais, afinal, sou um curioso contumaz.

Contei tudo isso para concluir que hoje esse personagem sou eu! Hoje sou esse “tio” contador de histórias!!! Muitas destas estórias já contei nessas minhas colunas, mas tem um estoque que, por vezes, acho que é infinito! Tive a sorte de conhecer e conviver com pessoas que instigavam a viver essas estórias e de participar de momentos que fizeram história! Talvez conseguir relatar essas estórias com verdade e curiosidade, transforme um simples fofoqueiro em um grande escritor!

Muitas das estórias que marcaram minha história nem minhas são! São relatos de momentos: alguns que participei, outros que presenciei, outros que escutei e alguns até que enfeitei demais.

Mesmo essa afirmação talvez nem minha seja: Alexandre Dumas escreveu que criou verdades históricas na emoção do momento! Um grande biografo! Aliás, Dumas é um grande exemplo de um bom contador de estórias! Contou a vida de Henrique III, Carlos IV, Bonaparte e até de Garibaldi, o herói dos dois mundos, de quem foi muito amigo!

Muitas de suas peças teatrais, foram inspiradas em fofocas do século XIX. Dumas diz que muitos dos seus personagens, do Conde de Monte Cristo ao mosqueteiro D’Artagnan, foram inspirados em pessoas que conviveu ou em pessoas que queria ter conhecido pela curiosidade que tinha a respeito delas. Enfim, a curiosidade é o que faz boas estórias! E boas estórias é que criam grandes escritores! Resumindo, todo escritor ou contador de estórias é, no fundo, um fofoqueiro! Não um fofoqueiro maldoso necessariamente, mas um fofoqueiro!

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Sobre o autor

André Vasconcelos

Cozinheiro raiz e autodidata, hoje no comando de sua Cozinha Singular Eventos e d'O Vilarejo Hospedaria e Gastronomia, onde insumos e técnicas são a base de cardápios originais e exclusivos... e aprendiz de escritor também!


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