Resgate histórico e vinhedos centenários no Sul do Chile
Pequenos produtores estão criando vinhos únicos, resgatando tradições esquecidas

O Sul do Chile é responsável por um dos maiores resgates históricos do mundo do vinho nas últimas décadas.Apesar de muito distante da capital e dos principais polos vinícolas do país, que sempre receberam investimentos milionários e o foco do trade, como Maipo e Colchagua por exemplo, regiões como Itata, Bío-Bío e Maule sofreram mais com essa distância. Para viajar de Santiago a Chillán em Itata são mais de 400km.
Mas, apesar disso, é lá que se encontra a mais rica, intocada e antiga história do vinho Chileno, pois os Conquistadores trouxeram uvas que até hoje são importantes naquela parte. Uma delas é a País, ou Listán Prieto como era chamada na sua origem em Castilla-La Mancha.
Ela foi levada em 1540 pelos Franciscanos Espanhóis para a costa oeste das Américas, ganhando o nome de Mission (por causa dos missionários religiosos) no México e o que vinha a ser o estado da Califórnia. Na Argentina ela é chamada de Criolla Chica. É muito provável que ela tenha sido a primeira Vitis Vinífera a ser trazida para as Américas.
Durante muitas décadas esses vinhedos foram de camponeses simples que vendiam uvas a granel para os grandes produtores de volume por preços quase que simbólicos. Vinhedos centenários, inclusive alguns com mais de 200 anos de idade, eram vendidos a centavos o quilo para serem misturados nos blends de vinhos básicos.
Alguns produtores com visão e com respeito à história passaram a viajar frequentemente pro Sul, provando vinhos até no acostamento, alguns chamados de Pipeños, feitos de maneira artesanal e até mesmo utilizando uma madeira local chamada da raulí. Quando encontravam qualidade iam atrás dos proprietários para propor uma troca justa, cuidar desse patrimônio natural e pagar um valor digno de sua qualidade que encorajava o camponês a continuar seu trabalho e viver melhor.
Assim foram sendo criados rótulos novos e houve uma verdadeira revolução local. Esses vinhedos antigos e selvagens, em solos graníticos ou vulcânicos, cultivados de forma natural inclusive em “secano”, ou seja, sem irrigação, começaram a chamar atenção. A uva País ganhou holofotes e outros locais de vinhedos antigos como Moscatel e Carignan.
Hoje o Sul do Chile é lar de nomes reconhecidos internacionalmente produzindo vinhos originais que são puro reflexo de terroir. Referências em Moscatel e País como Roberto Henriquez e Cacique Maravilha com suas filosofias de vinho natural, à François Massoc e sua visão mais clássica e “francesa” do País. Passando por ícones como Pandolfi Price e seu famoso Chardonnay Los Patrícios de Itata e Gonzales-Bastias, Itata Paraíso e De Martino. Temos até um produtor brasileiro, Cata Terroirs, fazendo ótimos vinhos na região e agora, claro, as grandes marcas estão começando a se aventurar por lá buscando esse resgate histórico.
Um resgate que foi um grande alento para os pequenos produtores locais que passaram anos lutando para manter esse patrimônio especial.
Para ler outras crônicas do sommelier Eduardo Araújo, clique AQUI
Para voltar à capa do Portal o (home) clique AQUI
Para receber nossas notícias, clique AQUI e faça parte do Grupo de WHATS do Imagem da Ilha.
Gostou deste conteúdo? Compartilhe utilizando um dos ícones abaixo!
Pode ser no seu Face, Twitter ou WhatsApp
Comentários via Whats: (48) 99162 8045
Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
Ver outros artigos escritos?
