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Sem álcool, mas com potencial: A tendência dos Vinhos NoLo

Entre tendências e testes sensoriais, os vinhos sem álcool ganham espaço em feiras como a Wine Paris, mas ainda enfrentam desafios para preservar a complexidade e o equilíbrio dos vinhos tradicionais. (Foto: Divulgação)

Publicado em 15/05/2025

Nas minhas viagens e feiras de vinho que participo, como a Wine Paris e Wine South America em 2025, percebi uma tendência que seu buzz não para de crescer: os vinhos sem álcool, ou NoLo (No e low alcohol). Por curiosidade e percebendo esse barulho, provei dezenas de rótulos, mas muitos me deixaram bastante decepcionados, ou doces demais, outros pareciam um Frankestein montado às pressas, faltando pedaços e alma. Ainda assim, consegui encontrar uma mão cheia que provaram que os NoLo podem evoluir e um dia rivalizar com vinhos tradicionais. 

Hoje, esses vinhos atendem a uma mudança cultural: consumidores, especialmente a geração Z, estão buscando prazer sem excessos, com mais saúde e sustentabilidade. Mas como criar um vinho sem álcool que preserve o terroir?

Tudo começa como um vinho clássico: uvas colhidas, esmagadas e fermentadas, transformando açúcar em álcool. O desafio é remover o álcool — componente importante para a estrutura e a percepção de aromas do vinho — sem apagar o seu caráter. Para fazer isso, temos três técnicas principais. A osmose reversa, que usa membranas microscópicas para separar álcool e água dos compostos aromáticos, recombinando-os depois. Imagina passar um café, com precisão ele fica perfeito e com caráter, mas, se mal executado, ele pode ficar “mudo” ou desbalanceado, como muitos vinhos que provei. Temos também a destilação a vácuo que evapora o álcool a baixas temperaturas (25-30°C), protegendo notas florais e frutadas que iriam volatizar a temperaturas mais altas, mas exige expertise para evitar sabores metálicos ou texturas magras, comum no que vi. Já o processo de coluna de cones rotativos, vista em algumas vinícolas inovadoras na Wine Paris, o processo ocorre em duas etapas: primeira, captura os compostos aromáticos voláteis; depois, remove o álcool. Os aromas são reintegrados ao vinho final e é possível fazer ajustes finos da quantidade de álcool final, mas seu alto custo restringe o uso a grandes vinícolas com alto poder de investimento e volumes. Nesses métodos os ajustes feitos após remoção, como de acidez, aromáticos e de corpo devem ser feitos beirando a perfeição, pois o resultado pode ser catastrófico.

Apesar das dificuldades, o futuro pode ser promissor. Na Wine Paris, a conferência “Is Alcohol-Free the Future?” revelou que tecnologias modernas preservam até 95% dos aromas. Provei também um ótimo exemplar do produtor Fio Wines do Mosel. Servido às cegas foi uma grata surpresa, mostrando que com cuidado e uvas de qualidade podemos ter essa tendência de mercado, que cresceu mais de 33% entre 2020 e 2023 (IWSR).

Seja por motivos de saúde, moderação, condições especiais como uma gravidez ou se for o motorista da rodada, na próxima vez que ver um vinho sem álcool faça o teste e veja se ele te agrada, acredito que o futuro irá moldar bons vinhos com a evolução dessas técnicas.

 

 

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Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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